sábado, 23 de março de 2013

Poesia Itinerante - Carolina Salcides

Toda Mulher - Carolina Salcides

Toda mulher
Tem no seu íntimo uma magia própria
De fazer acontecer
De dar um jeito
De dar o peito
Dar um colo
Fazer bem feito.
Toda mulher traz na alma a força dos ventos
O fascínio de um cavalo selvagem
A sensibilidade de uma flor
Que sente, pressente, intui
Se abre no momento certo
E exala seu perfume.
Ela galopa contra o vento
Enfrenta tormentas
Carrega consigo suas mágoas
E as dissipa no ar.
Tem a alma leve
Apaixonada
Não abandona o que acredita por nada.
Tem medo, Tem asas
Preza sua liberdade
Divide com aquele que acredita
Sua vida, seus sonhos, seu amor e sua alma.

sexta-feira, 15 de março de 2013

Música Erudita

Música erudita ou clássica é bem difícil de se definir. De uma forma mais geral, pode-se afirmar que ela abrange toda forma musical admitida nas academias, pesquisada e interpretada no âmago das convenções e dos cânones previamente determinados pelos historiadores da música.
Os dicionários de música costumam também disseminar outra noção desta expressão, a de que ela tem o sentido de música séria, contrapondo-se às canções populares, folclóricas e ao jazz. Mas não há muito sentido nesta idéia, pois qualquer musicalidade pode ser austera, não precisando, portanto, ser erudita para tal.
Uma outra concepção restringe-se ao que se chama de música clássica, definindo-a como uma estrutura esteticamente distinta, harmônica, objetiva e rigorosa, ausente de informalidades, emoções excessivas e procedentes da alma humana, típicas das músicas nascidas durante o Romantismo. Mas aí reside um problema difícil de equacionar, o de que músicos como Beethoven e Schubert apresentam características românticas em suas composições, e seria inviável excluí-los do quadro das músicas clássicas só por esta razão.
Uma concepção alternativa é a de que a música erudita é aquela que foi concebida de 1750 a 1830, incluindo especialmente as produções de Haydn, Mozart e Beethoven, destacando-se a Escola Clássica Vienense, já que nesta época Viena era considerada o centro musical da Europa. Dela nasceram as sinfonias, os quartetos de cordas e os concertos; ela foi responsável também pela predominância das composições instrumentais sobre as criações direcionadas para o estilo coral. Deste movimento surgiu igualmente a sonata, que se aprimorou ao longo do século XVIII.
O termo erudito provém do latim ‘eruditus’, significando ‘educado’ ou ‘instruído’. A música elaborada neste estilo desenvolveu-se segundo os moldes da música secular e da liturgia ocidental, em uma escala temporal ampla que vai do século IX até os nossos dias. Suas regras essenciais foram estruturadas entre 1550 e 1900. Esta música engloba várias modalidades, desde as complexas fugas até as operetas, criadas para entreter os ouvintes.
A expressão ‘música clássica’ passou a ser usada a partir de princípios do século XIX, quando houve a intenção de se transformar a era que inicia com Bach e vai até Beethoven, em um período de ouro. Atualmente este rótulo é aplicado tanto à música clássica, no sentido de produção de alto nível, quanto à erudita no todo. Não é fácil delimitar suas bases, que só começam a serem delineadas após a intervenção de Reicha, em 1826, e de Czerny, em 1848.
O formato sonata trouxe à música erudita modificações fundamentais. Com este estilo vieram arrebatados contrastes de tonalidades, contraposições entre distintas concepções temáticas e, como consequência, um incremento da carga dramática desta estrutura musical, bem como uma maior junção desta por meio dos instrumentos. Seus principais traços estão nos primeiros movimentos de Haydn, Mozart e Beethoven.
A música clássica produzida na Europa se distingue das demais pela sua inserção no mecanismo conhecido como notação em partituras, sistema utilizado desde o século XVI. Este método propicia a execução da obra, indicando altura, velocidade, métrica, ritmo e a forma de se tocar uma peça musical.

quinta-feira, 7 de março de 2013

A Lenda do Uirapuru


CARACTERÍSTICAS E CANTO

O nome Uirapuru aplica-se a vários pássaros da mesma família: uirapuru-de-peito-branco; uirapuru-veado; uirapuru-de-asa-branca; e o uirapuru-verdadeiro.

Esse tipo de pássaro é conhecido, também, como corneta, ou músico. Entretanto, o termo Uirapuru refere-se ao uirapuru-verdadeiro.

O Uirapuru é uma ave pequena de aproximadamente 12,5cm, de plumagem pardo-avermelhada e bem simples, tendo às vezes, nos lados da cabeça, um desenho branco. Tem bico forte, pés grandes e de comportamento irrequieto, movendo-se rapidamente no meio da folhagem ou do solo.

Pássaro típico da Amazônia e raramente visto, pois vive habitualmente na parte mais alta das copas das árvores da selva. Alimenta-se de frutas e insetos.

Durante o ano todo, o Uirapuru canta apenas cerca de quinze dias, pois seu cantar longo e melodioso só acontece para atrair a parceira para o acasalamento e durante a construção do ninho. Cantos que duram de dez a quinze minutos ao amanhecer e ao anoitecer.

O canto do Uirapuru ecoa na mata virgem com um som puro e delicado, como o de uma flauta. Parece ser emitido por uma entidade divina. Quando canta o uirapuru, a floresta silencia. Todos calam para reverenciar o mestre, todos seduzidos pela beleza do seu trinado.

Quem tiver o privilégio de ouvir seu canto, jamais o esquecerá.

A NARRATIVA SOBRE A PAIXÃO DO JOVEM ÍNDIO

Existe a lenda amazônica sobre o Uirapuru. Nos registros existem, basicamente, duas narrativas, entretanto, ambas revelam que a origem do Uirapuru foi a compensação dada pela divindade ao grande sofrimento causado por amor de impossível realização.

Uma das narrativas conta que um jovem índio apaixonou-se perdidamente pela esposa do grande cacique da tribo. Incapaz de viver este amor impossível pediu a Tupã, que o transformasse em ave, para amenizar a sua dor. Desde então, às noites, passou a cantar bela melodia, para fazer a sua amada dormir.

O cacique ficou tão fascinado pelo canto que perseguiu o pássaro para prendê-lo. O Uirapuru voou para a floresta e o cacique, na perseguição, nela se perdeu para sempre.

Todas as noites o Uirapuru voltava para acalentar os sonhos do seu amor, esperando, também, que um dia, a índia pudesse reconhecê-lo e despertá-lo do seu encanto.

A NARRATIVA SOBRE A PAIXÃO DE DUAS ÍNDIAS

A outra narrativa conta que duas índias muito amigas apaixonaram-se pelo mesmo guerreiro da tribo. A história do amor das duas se espalhou pela aldeia, e os mais velhos resolveram perguntar ao índio qual das duas ele amava. A resposta surpreendeu a todos , confessou seu amor pelas duas.

Pelas tradições da tribo não era permitido o casamento com as duas índias e, assim, o conselho de anciões da tribo decidiu: “o guerreiro casaria com aquela que primeiro conseguisse flechar um marreco voando”.

O casamento foi realizado. A índia que perdeu foi ficando cada vez mais triste, pois não suportava a impossibilidade de realizar seu grande amor e a saudade da amiga Procurou um lugar distante e começou a chorar. Chorou tanto, que suas lágrimas se transformaram num riacho.

Inconformada com aquela situação implorou a Tupã para ser transformada num pássaro.

Tupã compadecido atendeu-a dizendo: “de hoje e para sempre serás o Uirapuru. Terás um canto tão lindo e harmonioso que te livrarás de teu sofrimento. Quando cantares a floresta silenciará”.

SUPERSTIÇÕES

Devido às lendas, uma pena ou um pedaço do ninho, ou o próprio uirapuru, mesmo morto, são tidos como precioso talismã ao amor.

Nesse mundo de desencontros, o homem tornou-se o maior predador do uirapuru-verdadeiro, por acreditar que, por meio dos poderes atribuídos ao pássaro, realizará seus sonhos de amor.

A tendência é o desaparecimento dessa crendice pois , mais cedo ou mais tarde, entenderemos que os poderes atribuídos ao pássaro, existem no interior de cada um de nós. Esses poderes não são nada mais do que nossa capacidade de amar, capaz de realizar todos os sonhos  de amor, até mesmo os considerados impossíveis.

“Uirapuru”  são nossas rimas e nosso canto, sem quaisquer pretensões de silenciar a floresta, mas  a de registrar  mais uma das encantarias do imaginário amazônico.