quinta-feira, 7 de março de 2013

A Lenda do Uirapuru


CARACTERÍSTICAS E CANTO

O nome Uirapuru aplica-se a vários pássaros da mesma família: uirapuru-de-peito-branco; uirapuru-veado; uirapuru-de-asa-branca; e o uirapuru-verdadeiro.

Esse tipo de pássaro é conhecido, também, como corneta, ou músico. Entretanto, o termo Uirapuru refere-se ao uirapuru-verdadeiro.

O Uirapuru é uma ave pequena de aproximadamente 12,5cm, de plumagem pardo-avermelhada e bem simples, tendo às vezes, nos lados da cabeça, um desenho branco. Tem bico forte, pés grandes e de comportamento irrequieto, movendo-se rapidamente no meio da folhagem ou do solo.

Pássaro típico da Amazônia e raramente visto, pois vive habitualmente na parte mais alta das copas das árvores da selva. Alimenta-se de frutas e insetos.

Durante o ano todo, o Uirapuru canta apenas cerca de quinze dias, pois seu cantar longo e melodioso só acontece para atrair a parceira para o acasalamento e durante a construção do ninho. Cantos que duram de dez a quinze minutos ao amanhecer e ao anoitecer.

O canto do Uirapuru ecoa na mata virgem com um som puro e delicado, como o de uma flauta. Parece ser emitido por uma entidade divina. Quando canta o uirapuru, a floresta silencia. Todos calam para reverenciar o mestre, todos seduzidos pela beleza do seu trinado.

Quem tiver o privilégio de ouvir seu canto, jamais o esquecerá.

A NARRATIVA SOBRE A PAIXÃO DO JOVEM ÍNDIO

Existe a lenda amazônica sobre o Uirapuru. Nos registros existem, basicamente, duas narrativas, entretanto, ambas revelam que a origem do Uirapuru foi a compensação dada pela divindade ao grande sofrimento causado por amor de impossível realização.

Uma das narrativas conta que um jovem índio apaixonou-se perdidamente pela esposa do grande cacique da tribo. Incapaz de viver este amor impossível pediu a Tupã, que o transformasse em ave, para amenizar a sua dor. Desde então, às noites, passou a cantar bela melodia, para fazer a sua amada dormir.

O cacique ficou tão fascinado pelo canto que perseguiu o pássaro para prendê-lo. O Uirapuru voou para a floresta e o cacique, na perseguição, nela se perdeu para sempre.

Todas as noites o Uirapuru voltava para acalentar os sonhos do seu amor, esperando, também, que um dia, a índia pudesse reconhecê-lo e despertá-lo do seu encanto.

A NARRATIVA SOBRE A PAIXÃO DE DUAS ÍNDIAS

A outra narrativa conta que duas índias muito amigas apaixonaram-se pelo mesmo guerreiro da tribo. A história do amor das duas se espalhou pela aldeia, e os mais velhos resolveram perguntar ao índio qual das duas ele amava. A resposta surpreendeu a todos , confessou seu amor pelas duas.

Pelas tradições da tribo não era permitido o casamento com as duas índias e, assim, o conselho de anciões da tribo decidiu: “o guerreiro casaria com aquela que primeiro conseguisse flechar um marreco voando”.

O casamento foi realizado. A índia que perdeu foi ficando cada vez mais triste, pois não suportava a impossibilidade de realizar seu grande amor e a saudade da amiga Procurou um lugar distante e começou a chorar. Chorou tanto, que suas lágrimas se transformaram num riacho.

Inconformada com aquela situação implorou a Tupã para ser transformada num pássaro.

Tupã compadecido atendeu-a dizendo: “de hoje e para sempre serás o Uirapuru. Terás um canto tão lindo e harmonioso que te livrarás de teu sofrimento. Quando cantares a floresta silenciará”.

SUPERSTIÇÕES

Devido às lendas, uma pena ou um pedaço do ninho, ou o próprio uirapuru, mesmo morto, são tidos como precioso talismã ao amor.

Nesse mundo de desencontros, o homem tornou-se o maior predador do uirapuru-verdadeiro, por acreditar que, por meio dos poderes atribuídos ao pássaro, realizará seus sonhos de amor.

A tendência é o desaparecimento dessa crendice pois , mais cedo ou mais tarde, entenderemos que os poderes atribuídos ao pássaro, existem no interior de cada um de nós. Esses poderes não são nada mais do que nossa capacidade de amar, capaz de realizar todos os sonhos  de amor, até mesmo os considerados impossíveis.

“Uirapuru”  são nossas rimas e nosso canto, sem quaisquer pretensões de silenciar a floresta, mas  a de registrar  mais uma das encantarias do imaginário amazônico.

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